“Compreender é sentir… a habilidade de explicar não significa nada.” – Paul Williams
Tão prodígio quanto o próprio Dylan, o então garoto de 18 anos Paul Williams escreveu em julho de 1966 um artigo batizado de “Compreendendo Dylan”. O texto foi publicado na quarta edição da revista criada pelo próprio Paul, a lendária Crawdaddy!, que fortalecida pela foto de Bob na capa vendeu mais de 400 cópias só durante um Newport Folk Festival.
Neste ensaio, Paul Williams diminui a importância de se saber mínimos detalhes biográficos e sugere que se aprecie – e experiencie – mais as músicas de Dylan.
Num certo momento, Paul utiliza de uma analogia muito interessante para explicar a “função” dos poetas (como Dylan): ao invés de explicar detalhadamente o que ele viu – e o que ele acredita que viveu – o artista tenta fazer com que você sinta o que ele sentiu. No final, o mais importante não é exatamente explicar, ou de falar do que se trata a música, mas de te mostrar a complexidade dos sentimentos e vivências embutidos na canção.
Ele não te dá uma descrição, ele te fornece uma experiência. Daí a frase que usei como epígrafe. Mas apesar da afirmação categórica, o Paul Williams não diminui a função do crítico musical. Para ele, o crítico sensível deve ser um guia, que ao invés de parafrasear a canção, tenta mostrar às pessoas como apreciá-la.
E Paul Williams foi realmente um crítico de muita sensibilidade. Coincidentemente, comecei a ler um livro seu semanas antes dele falecer e o que mais me chamou a atenção foi a proximidade de sua escrita (não à toa, Bob Dylan o convidou para acompanhar alguns shows em 1980).
Portanto, este breve devaneio que faço é uma homenagem dupla: a Paul, por abrir nossa mente para um olhar tão sensível; e a Bob, que foi quem fez com que o crítico desenvolvesse este dom.
* * *
Este é o terceiro post que faço usando o aniversário de Dylan para falar de sua arte (e parafraseando Paul, se você não considera a obra de Bob uma arte, eu não vou debater isso agora e não sei como você conseguiu ler até aqui). Relendo os dois posts anteriores, alguns textos me chamaram a atenção.
No primeiro, escrevi:
“Todo sentimento humano talvez possa ser representado por uma canção dylanesca. Mais do que isso: todo sentimento humano talvez seja melhor ilustrado atraves de sua música.”
E no segundo:
“Mesmo soando contraditório, ele é um sonegador do próprio passado ao mesmo tempo que dialoga com tudo o que já fez. Revisita suas músicas mas, ao invés de requentar todo o sabor criado, refaz todo o prato e cria novos aromas para as mais de 500 receitas.”
Acho que continuo concordando com os dois trechos – apesar de querer, como é comum em releituras próprias, mudar isso ou aquilo -, mas foi após ler alguns textos de Paul Williams que eu tive mais uma ideia do que é a música dylanesca.
Ouvir Bob Dylan é imergir num mundo tão complexo quanto belo. É passear por jardins, ruas, avenidas e todo tipo de lugar que significa e re-significa a todo momento.
É presenciar diálogos sensíveis ou ácidos que você com certeza reutilizará em algum momento de sua vida – ou desejará tê-los usado. É entender um pouco mais a mediocridade humana e, de alguma maneira, saber contemplá-la mesmo com todo o horror.
É acompanhar as mutações de um artista, revisitar seus sentimentos e expectativas e trabalhar suas próprias frustrações diante de uma música em estado de transfiguração.
É saber, acima de tudo, estar aberto a absorver de peito aberto tudo aquilo que ele tem para te oferecer.
Talvez seja essa a “função” de Bob Dylan: te ensinar a viver.
E que ele continue nos ensinando.
Happy Birthday, Mr. Dylan.
Beleza de texto! Parabéns!
E vida ao longa ao velho Dylan!!
Muito obrigado, Anselmo!!
Abraços
Tudo que eu sinto desde que passei a ouvir Dylan teve sua expressão neste texto. Dylan transcende qualquer entendimento. Obrigado, Bob.
Bom saber que você sente o mesmo que eu ao ouví-lo!
Abração
Belo Texto !!
Mais um ano de vida de Dylan e também mais um em que nos debruçamos sobre sua obra para tentar ao menos um pouco absorver significados que descobrimos , mas sempre estiveram lá !!!
” Dylan Forever and Ever ” !!
Obrigado, Valdir!
E que a gente consiga absorver cada vez mais.
Abraços
Talvez seja essa a “função” de Bob Dylan:[me] ensinar a viver. Q coisa lindaaaa! Amei! Parabéns!
A mais pura verdade…
Obrigado, Karen!
Beijos!
A mais bela recomendacao de Dylan para mim foi: “Serve God and be cheerful/Look upward beyond/Beyond the darkness of masks/The surprises of dawn…”
Abracos,
Vi Dylan o ano passado em Heredia, Costa Rica…. Foi o único show da turné Latinoamericana onde tocou 18 músicas….Assistimos a um pedaco da história…
Que privilégio hein, Lucas?
Abração!
“Ouvir Bob Dylan é imergir num mundo
tão complexo quanto belo. É passear por
jardins, ruas, avenidas e todo tipo de
lugar que significa e re-significa a
todo momento.” – Maravilhoso!…
Happy Birthday, Mr. Dylan!…
Obrigado, Conchita!
And a REALLY happy birthday to Mr. Dylan!
É incrível como um cara consegue se reinventar a cada ano que passa. Que ele continue por muitos anos escrevendo e cantando aquilo que soa tão próximo de nós.
E parabéns pelo ótimo texto Pedro!
Essa mutação constante do Dylan é algo que impressiona MUITO, mesmo!
E obrigado pelos parabéns, Jeff
Abração!
Um dia Dylan disse a respeito de Elvis Presley:- “Ouvir Elvis é como sair da prisão”!Acho que a mesma coisa podemos dizer do próprio Bob Dylan quando ouvimos a sua musica!
Parabéns pelo belo artigo sobre o príncipe dos poetas musicais.
Elvis e Dylan revolucionaram a música, cada um a sua maneira.
Obrigado pelos parabéns, Elton.
Abração!