Dylan no Brasil: por que ver Bob com esta banda?

Tudo leva a crer que Bob Dylan terá como banda de apoio a mesma que o acompanhou nos últimos anos. Essa formação é uma das mais fixas na carreira do cantor, que sempre pareceu nunca ter ligado para variações de integrantes. A constância pode ter uma razão: essa é a melhor banda para interpretar as canções dylanescas. Calma que eu explico.

Bob Dylan já admitiu vários grupos como sua banda de apoio. Nos anos 60 (e em 74), tornou famoso o grupo que depois se tornaria The Band. Em 76, levou ao palco inúmeros artistas e montou o “Rolling Thunder Revue”, transformando suas apresentações em um espetáculo divertido e catártico. Depois veio a fase cristã, que trouxe uma abordagem mais soul e negra para sua música. Nos anos 80, excursionou com Tom Petty and The Heartbreakers, além de receber o suporte (e os longos solos) do Grateful Dead. E por aí vai.

Para muitos, The Band é o grupo mais importante para a música de Dylan. De fato ele teve uma função primordial para a criação do “selvagem som de mercúrio” que o cantor buscava no início de sua fase elétrica. O grupo sempre teve uma sonoridade com características únicas, mas os talentos nele contidos precisavam de notoriedade. Não é a toa que na turnê de 1974, The Band tocava várias canções próprias, sem a presença de Dylan.

A atual banda de apoio de Dylan, porém, não aparenta buscar essa fama. Os músicos parecem ser devotados à canção, abrindo mão da exposição de seus talentos. Ao invés de usar a música para mostrar o que sabem, eles usam de suas aptidões para fazer a música acontecer. Isso não significa que eles sejam menos talentosos ou que The Band tenha sido formada por ególatras. São maneiras distintas de expressar a própria arte.

Com a banda de hoje, a música respira como seu cantor quer. Em sua autobiografia, Bob Dylan diz que pouco antes de começar a excursionar com o Grateful Dead, descobriu uma nova maneira de interagir com a música (e espantou a idéia de aposentadoria). Com a nova técnica na maneira de tocar, ensinada por Lonnie Johson, ele poderia flutuar pela canção através de diversas variações na melodia.

Mais do que mudar a melodia, Bob Dylan queria exprimir diversos sentimentos. E sua banda atual é capaz de captar essas mudanças de humor e seguir o mesmo caminho do seu maestro. Mas não é só isso: sua banda também sugere caminhos, tendo autonomia para testar novas progressões e texturas.

(ouça atentamente a última estrofe de “A Hard Rain’s A-Gonna Fall”. Perceba como a guitarra, que parece vir timidamente do fundo, apresenta uma nova melodia, que influencia Dylan no modo de cantar. Aos poucos, Bob molda seu canto, envolvendo-o na melodia improvisada).

No fim, é exatamente isso que Dylan sempre buscou: a inocência de não ter medo de improvisar. É sabido que em suas sessões de gravação, desde o início, Bob não gostava de repetir as mesmas versões. Mudava o take, algo também mudava (tempo, tom, fraseado, etc). Agora ele é capaz de recriar esse momento a cada dia, sem precisar ditar o percurso. Como remadores, todos sabem o momento de diminuir ou acelerar. A música também se faz no olhar.

Nos últimos anos, Bob Dylan tem se mostrado excepcionalmente feliz no palco. Improvisos, sorrisos e imprevistos bem-sucedidos fazem parte do programa atual. Ele até sucumbe a alguns tipos de tecnologia, como o microfone exclusivo da gaita e ecos que o divertem:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=44GTDAihw_Q]

O que exatamente podemos esperar do show de Dylan é difícil definir. Mas sabemos que jamais esqueceremos.

Bob Dylan and His Band

Tony Garnier, atual baixista da banda de Dylan, entrou em 10 de junho de 1989 e é o músico que mais tocou com o cantor. Desde sua entrada, muitos instrumentistas passaram pelo grupo dylanesco até chegar à formação que temos hoje:

Tony Garnier – baixo

Stuart Kimball – guitarra

George Receli – bateria

Charlie Sexton – guitarra

Don Herron – violino, mandolin, trompete  e pedal steel

2 thoughts on “Dylan no Brasil: por que ver Bob com esta banda?

  1. PEDRO!!!

    VC já notou que Porto Alegre é a mais Dylanesca das cidades brasileiras? Olha só:

    -Vitor Ramil
    -Nei Lisboa
    -Júlio Reny
    -Humberto Gessinger
    -Júpiter Maçã
    -Bebeto Alves
    E etc…..
    Será que vem daí a tal “loucura” do Rock Gaúcho???
    Deus tá chegando aí,vamos orar!!!!!

    1. Nunca fiz uma lista, mas já percebi essa inclinação dylanesca do sul. Vocês têm sorte…

      Logo menos ele ta por aqui!

Leave a Reply to pedroluts Cancel reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *