Ladies and gentlemen please welcome…

Nos últimos anos, todos os shows de Bob Dylan têm a mesma introdução: um perfil rápido e estereotipado que contempla toda a carreira do cantor em menos de trinta segundos. A locução é feita pelo diretor de palco de Dylan, Al Santos, de uma maneira empostada, mas arrastada.

Segundo o jornalista e crítico de rock Greil Marcus, no livro Like a rolling stone – Bob Dylan na encruzilhada, a introdução foi feita pela primeira vez num show em 2002. O excerto foi tirado de um texto escrito pelo jornalista Jeff Miers sobre uma apresentação que Dylan faria em Hamburg, New York, e publicado no mesmo ano pelo jornal Buffalo News.

Eis o que Al Santos fala, em média, 100 vezes ao ano:

“Ladies and gentlemen please welcome the poet laureate of rock ‘n’ roll. The voice of the promise of the ’60s counterculture. The guy who forced folk into bed with rock. Who donned makeup in the ’70s and disappeared into a haze of substance abuse. Who emerged to find Jesus. Who was written off as a has-been by the end of the ’80s, and who suddenly shifted gears releasing some of the strongest music of his career beginning in the late ’90s. Ladies and gentlemen — Columbia recording artist Bob Dylan!”

Algo como:

“Senhoras e senhores, por favor dêem as boas-vindas para o aclamado poeta do rock ‘n’ roll. A voz da promessa da contracultura dos anos 60. O rapaz que forçou o folk a ir para cama com o rock. Que usou maquiagem nos anos 70 e desapareceu numa névoa de abuso de drogas. Que voltou para encontrar Jesus. Que era considerado acabado nos anos 80 e que mudou drasticamente lançando alguns dos álbuns mais fortes de sua carreira, começando no fim dos anos 90. Senhoras e senhores – o artista da gravadora Columbia: Bob Dylan!”

A razão pela qual Dylan se utiliza de uma explicação tão didática quanto limitante talvez possa ser explicada através de Tom Zé: “to te explicando pra te confundir”. Ao explicitar seus estereótipos, Bob se dá o direito de deixá-los de lado. É possível ouvir pela primeira vez uma mesma canção de Dylan por várias vezes distintas. O que ele foi não representa, e nem explica, o que ele é.

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