Masters of War (ou Dylan sabor cítrico)

Gravado em novembro de 1961, o álbum de estréia de Dylan só seria lançado em março do ano seguinte. Logo após disco sair às lojas, Bob já achava que o registro era ultrapassado e não era fiel ao cantor que se expandia exponencialmente.

No dia 24 de abril de 1962, Dylan iniciaria as gravações para o sucessor do seu primeiro disco, The Freewheelin’ Bob Dylan. Contudo, a última sessão de gravação é datada exatamente um ano depois, no dia 24 de abril de 1963. Nessa última visita ao estúdio, Bob gravou cinco músicas. Dessas, quatro foram para o álbum. Entre elas, uma canção com um poder menos poético, Masters Of War.

Poesia de lado

As novas composições de Dylan durante o início dos anos 60 tinham como característica conteúdo com temas contemporâneos através de uma abordagem nova e linguagem poética. Boa parte delas tinha um conteúdo mais político, dialogando com o contexto da época. Nestas categorias, podemos colocar Blowin’ in the wind e A Hard Rain’s A-Gonna Fall como ótimos exemplos de canções engajadas com letras sofisticadamente lapidadas.

Masters of War, no entanto, não se encaixa completamente nesta descrição. Seus primeiros registros datam do início de 1963 (a canção foi publicada na revista Broadside em fevereiro e foi ilustrada com desenhos de Suze Rotolo) e seu conteúdo é um comentário crítico e agressivo sobre a indústria armamentista da época, impulsionada principalmente pela Guerra Fria.

A letra é direcionada aos mestres da guerra, que constróem grandes armas, aviões mortais e cuja finalidade é construir para destruir. Apesar de estarem escondidos atrás de suas mesas de trabalho, Dylan afirma conseguir ver “através das suas máscaras”.

Dylan os compara a Judas e afirma que nem Jesus os perdoaria, mas são as duas últimas estrofes que carregam a maior quantidade de acidez dylanesca. A descrição da esperança que Dylan tem de ver os tais mestres no caixão é tão fria quanto a guerra velada da época.

Let me ask you one question
Is your money that good
Will it buy you forgiveness
Do you think that it could
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul

And I hope that you die
And your death’ll come soon
I will follow your casket
In the pale afternoon
And I’ll watch while you’re lowered
Down to your deathbed
And I’ll stand o’er your grave
‘Til I’m sure that you’re dead

Melodia “emprestada”

Assim como em Girl From North Country, Boots of Spanish Leather, Blowin’ in the Wind e outras, Bob pegou emprestado a melodia de uma canção tradicional. Em Masters of War, a música de referência é a inglesa Nottamus Town, difundida na época pela cantora Jean Ritchie.

Segundo Shelton, a editora de Ritchie chegou a processar Dylan pelo uso da melodia, mas Bob argumentou afirmando que as variações e a letra original constituíam uma nova música.

Masters of War revisited

No Grammy de 1991, Bob Dylan recebeu o prêmio pelo conjunto da obra. Ele teve uma apresentação mediana e interpretou Masters Of War com uma instrumentação concreta e cheia de guitarras. Em entrevista para a Rolling Stones em 2001, Dylan contou os bastidores da premiação.

Ele relata que meses antes foi convidado a receber o prêmio e o plano inicial dos produtores era que uma série de artistas consagrados intrepretassem as canções de Dylan. Ele mesmo não gostou nem de receber o título, já que, segundo Bob, é censo-comum que o prêmio é dado para quem já está velho e para quem não acrescentaria mais nada relevante à música (o que não é o caso de Dylan que recentemente voltou a ser agraciado tanto pela crítica quanto pelo público no lançamento dos quatro últimos álbuns de inéditas).

Porém, a Guerra do Golfo estourou e todos os artistas que homenageariam Dylan desistiram de participar do Grammy. O único que manteve foi o ator Jack Nicholson, que fez o discurso de introdução a Dylan.

Assim, apesar de sempre refutar seu perfil engajado, Dylan fez política na premiação ao interpretar sua canção mais ácida contra a indústria armamentista. É interessante e infeliz perceber o quanto a canção é atual com uma análise sólida do mecanismo capitalista da guerra.

Veja a apresentação neste Grammy:

5 thoughts on “Masters of War (ou Dylan sabor cítrico)

  1. Dylanesco

    Essa música, Master of War, definitivamente, não é do Bob Dylan, principalmente depois que a gente ouve a bela voz da Jean Ritchie. A música é dela, e pronto e acabou.

  2. Jean Ritchie é uma cantora muito sensível, e é um escândalo a “similiridade”.
    Que nada, que nada de similaridade, a música é dela, a melodia é dela, e pronto e acabou, a compositora de Master of War é a Jean Ritchie.

    1. Verdade! Ouvi agora e realmente não tem como dizer que não é um “plágio”. Mas, convenhamos, a letra combinou muito com essa melodia. Duca!

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