Terminou no último domingo, em Mountain View (Califórnia), a turnê AmericanaramA. A excursão que contou com Bob Dylan, Wilco, My Morning Jackets foi vista em 27 cidades desde seu início, no dia 26 de junho. Eu tive o privilégio de ver três edições (em Atlanta, Nashville e Memphis).
Abaixo, alguns destaques dylanescos da turnê:
Repertório intacto
Se em turnês anteriores Bob Dylan criava um clima de tensão – para muitos prazeroso – a respeito de seu repertório, em 2013 ele escolheu a mesmice tão frequente para outros artistas.
Apesar das pouquíssimas alterações feitas, Bob Dylan ousou ao dar ênfase não aos “anos dourados”, mas à sua discografia mais recente – principalmente se levar em conta que ele dividia os palcos com duas bandas relativamente jovens (ou às vezes justamente por isso: preferiu trazer para a estrada as canções contemporâneas de seus colegas e suas audiências). O fato é: mais da metade do repertório se constituiu de canções pós-Time Out Of Mind, de 1997. Do disco mais recente, Tempest, Dylan escolheu três faixas: “Soon After Midnight”, “Duquesne Whistle” e “Early Roman Kings”.
Com essa constante, houve quem fizesse especulações. Há quem imagine que um disco ao vivo esteja se formando; ou talvez Dylan estivesse esperando que seu novo guitarrista aprendesse um set básico antes de complicas. Torço pela primeira opção. E se a segunda for a correta, Bob receberia uma péssima notícia.
Entra-e-sai guitarrístico
Bob Dylan iniciou os shows de 2012 com uma mudança em sua banda. Ao invés de convocar Charlie Sexton, chamou Duke Robillard, guitarrista com forte influência blues que já havia tocado com Dylan no disco Time Out of Mind. Contudo, no show em Memphis, misteriosamente Duke foi substituído por Charlie Sexton. Algumas especulações foram feitas da razão pela mudança. A partir de postagens de Duke no Facebook, ficou claro que houve algum conflito. Mesmo ele afirmando que não tenha sido de cunho musical, alguns fãs opinaram que o guitarrista estava invadindo os solos de gaita de Bob.
Depois de tocar alguns shows, Charlie foi substituído durante a passagem da turnê pelo Canadá. Dessa vez, a escolha foi ainda mais surpreendente: Colin Linden. O guitarrista canadense nunca havia tocado com Dylan, mas em seu currículo possui projetos com T-Bone Burnett, Lucinda Williams e The Band. Alguns shows antes de sua primeira participação, algumas testemunhas viram um cara com o mesmo semblante na mesa de som ao lado do palco, ouvindo os sons num fone de ouvido e fazendo anotações – provavelmente Colin tomando nota das canções e os diversos caminhos trilhados pelo bando dylanesco.
A partir daí, houve um certo rodízio entre Colin Linden e Charlie Sexton, que alternava entre apresentações com Bob e shows com o grupo de country/folk Court Yard Hounds.
Bob Dylan & convidados… juntos?
Nos últimos shows da turnê, Bob Dylan chamou ao palco Jim James (My Morning Jacket), Jeff Tweedy (Wilco) e de vez em quando algum músico da banda de abertura.
Em Toronto, escolheram a tradicional “Twelve Gates to The City”. A partir do show em Virginia, a trupe escolheu a belíssima “The Weight” dos ex-funcionários de Dylan, The Band.
Bobby Vee
Em sua cidade natal, Duluth, Bob Dylan resolveu não só presentear seu berço como fazer uma homenagem a uma de suas influências. Bobby Vee recrutou Bob quando ele ainda era um Zimmerman para tocar piano em alguns shows no fim dos anos 50.
Antes de tocar “Suzie Baby”, de Vee, Dylan discursou (sim, ele falou! Até então nem um “thank you” havia sido feito na turnê):
“Eu já toquei ao redor do mundo com tudo quanto é gente. Todo mundo desde Mick Jagger até Madonna. Mas a mais bela pessoa que eu já dividi o palco foi com Bobby Vee. Ele costumava cantar uma música chamada ‘Suzie Baby’”.
A nova turnê de Bob Dylan está marcada para começar dia 10 de outubro e viajará pela Europa.