Esquire celebra homens esquisitos e inclui Bob Dylan

A revista americana Esquire dedicou a matéria de capa de sua edição de fevereiro para fazer o perfil de alguns esquisitos do entretenimento e as vantagens de suas existências. Bob Dylan, obviamente, recebeu um espaço e um tema impossível de deixar de lado quando o assunto é sua excentricidade: a secreta vida pessoal de Mr. Dylan.

Tom Junod traça um perfil da privacidade dylanesca a partir de sete perguntas sobre detalhes do cotidiano, algumas delas feitas à equipe de Bob:

1- O que ele come no café-da-manhã?
2- Quais são seus hábitos de sono?
3- Bob Dylan é vegetariano?
4- Bob Dylan utiliza email?
“5-” Como é a vida afetiva de Dylan? (Tom se recusou a perguntar)
6- Qual carro Bob Dylan dirige?
“7-” Quem vai esculpir seu busto, se não um de nós? (esta foi apenas uma pergunta retórica).

Quem é este Bob Dylan?

Alguns relatos de pessoas que tiveram contato com ele são usados para ilustrar o quanto Bob Dylan valoriza a privacidade. Uma delas é Jeff Tweedy, que excursionou com Dylan no ano passado durante a turnê AmericanaramA. Paralelo aos testemunhos, Junod discute a importância do posicionamento, para muitos paranóico, de Dylan.

Leia a matéria completa (em inglês).

Primeiro Tom mostra que a valorização da privacidade não é o mesmo que reclusão. Todos sabem onde Bob mora; suas turnês são extensas e anuais; ele concede entrevistas quase sempre que lança discos; filmes, escritos por ele (como Masked and Anonymous) ou sobre ele (e com sua participação) foram lançados na última década. “Apesar da fama de ser um homem que não fala, Dylan é e sempre foi um homem que não se cala”, afirma o jornalista.

Após ilustrar em como Bob Dylan conseguiu manipular todos a acreditarem que ele é o coitado, Junod escreve:

“Dylan como a eterna vítima, Dylan como o tamanho de nossos pecados. Existe outra narrativa, no entando, e é de que Dylan não é apenas o primeiro e melhor poeta intencional do rock’n’roll. Ele é também o primeiro grande cuzão do rock’n’roll. O poeta expandiu a noção de como uma canção pode se expressar; o cuzão encolhe a noção de como uma platéia pode se expressar em resposta a uma canção. O poeta expande o que significa ser humano; o cuzão observa cada falha humana, mantendo um livro de dívidas para nunca serem esquecidas ou perdoadas”.

Então, talvez para amenizar as acusações e manter a paz com os fãs dylanescos, Junod dá alguns exemplos de encontros de anônimos com Bob e de que como ele foi solícito e simpático.

Bob Dylan e a policial de New Jersey

Kristie Buble & Bob Dylan

A matéria retoma o encontro bizarro que a polícial Kristie Buble teve com um idoso que observava casas na cidade de New Jersey durante uma chuva forte (história que ganhou um post exclusivo no blog da revista). Ao ser chamada para ver o provável mendigo que atormentava a vizinhança, Kristie abordou o indíviduo e perguntou seu nome: “Bob Dylan”. Após uma carona até o hotel e uma conversa simpática com o velho ensopado, Krisite foi surpreendida pelo empresáiro de Dylan, Jeff Rosen, irado com a conversa e obrigando para que a policial se afastasse. Um amigo de Bob mata a charada: “É a única liberdade que Bob Dylan tem – a liberdade de se locomover misteriosamente”.

De fato toda a discussão me lembrou do segundo show que fui de Bob em 2012. Antes de começar, puxei uma conversa com uma produtora que estava pedindo para não usar flashes nas fotos – um pedido do próprio Dylan, segundo ela. Ela também afirmou que Bob caminhou na região do Credicard Hall horas antes do show (uma região de São Paulo nada atrativa para turistas, diga-se de passagem). Isso, aliado às andanças que soubemos de Dylan pelas cidades onde passou, só me fizeram pensar no óbvio.

Bob Dylan se alimenta do cotidiano, do que há de mais real na vida. É através desse material bruto, dessa massa disforme e esquisita, que ele traça sua linha de raciocínio sobre a humanidade, nossos eternos inimigos e nossas eternas angústias e anseios. E é só através do anonimato, mesmo que momentâneo e ao custo de ameaças mafiosas, que é possível captar a verdade.

Ao fim da matéria, Tom Junod conclui ao colocar em palavras uma única e absoluta regra:

Nós não vamos ver Bob Dylan. Bob Dylan vem nos ver.

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