Dylan nas 500 maiores músicas de todos os tempos

A Rolling Stone Brasil lançou no final de 2010 uma edição especial com as “500 maiores músicas de todos os tempos”, a partir de duas listas feitas por músicos e especialistas a convite da Rolling Stone americana.

Eis algumas pessoas que participaram desse júri:
– Jakob Dylan – filho de Bob
– T. Bone Burnett – produtor e músico. Tocou com Bob Dylan na turnê Rolling Thunder Revue
– Rosanne Cash – filha de Johnny Cash
– Bill Flanagan – crítico de rock e produtor da MTV. Em 2009, fez uma entrevista exclusiva com Dylan sobre o recém-lançado Together Through Life
– Al Kooper – músico. Gravou com Bob Dylan os álbuns Highway 61 revisited (o lendário orgão de Like a rolling stone), Blonde on blonde, New morning, Empire burlesque, Knocked out loaded and Under the red sky.
– Lenny Kravitz – músico. Nos anos 90, tentou “roubar” o então baterista de Dylan Winston Watson, que rejeitou o convite.
– Greil Marcus – crítico de rock e autor de diversos livros, como Like a rolling stone – Bob Dylan na encruzilhada e The old, weird america: Bob Dylan’s basement tapes (inicialmente intitulado Invisible republic)
– Roger McGuinn – líder do grupo The Byrds, que gravou diversas canções de Bob Dylan. McGuinn também participou da turnê Rolling Thunder Revue e gravou com Dylan a trilha sonora de Pat Garret & Billy The Kid
– Joni Mitchell – cantora e compositora. Escreveu a música Big yellow taxi, gravada por Bob no álbum Dylan. Joni foi também uma das convidadas na turnê dos anos 70 Rolling Thunder Revue
– Robbie Robertson – guitarrista integrante do grupo The Band. Participou nos álbuns Blonde on blonde, The basement tapes e Planet Waves
– Jerry Wexler – produtor. Junto com Dylan, produziu o primeiro álbum solo de Barry Goldberg, em 73. Wexler produziu os discos Slow train coming e Saved

Entre os artistas com mais participações na lista, Bob Dylan ficou em 3º lugar, com 13 canções. Acima dele, apenas os grupos Rolling Stones, com 14, e Beatles, com 23.

As músicas listadas entre as 500 maiores de todos os tempos foram:
Like a rolling stone – 1º lugar
Blowin’ in the wind – 14º
The times they are a-changin’ – 59º
Tangled up in blue – 68º
Mr. Tambourine man – 107º
Desolation row – 187º
Knockin’ on heaven’s door – 192º
Positively 4th street – 206º
Just like a woman – 232º
Subterranean homesick blues – 340º
Highway 61 revisited – 373º
Visions of Johanna – 413º
Mississippi – 260º

Bob Dylan também “co-participou” no 47º lugar, já que a canção é All along the watchtower, gravada por Jimi Hendrix, mas composta por Dylan e lançada inicialmente no álbum John Wesley Harding.

A edição especial também colocou seleções feitas por nove artistas com as 10 músicas que mais tocaram suas vidas. Abaixo, os artistas que incluíram canções de Bob Dylan nos seus Top10.

Solomon Burke – Blowin’ in the wind (2º lugar)
Tom Morello – Blind Willie McTell (7º lugar)
Kelly Clarkson – Make you feel my love (8º lugar)

Top5 – I shall be released

Em 1966, Bob Dylan sofreu um acidente de moto que o tirou da turnê infinita que estava fazendo. Para se recuperar, hospedou-se em uma casa na região bucólica de Woodstock (sim, a mesma que abrigaria o festival hippie anos depois). Sua banda de apoio da época, The Band, também se hospedou na mesma região e todos passaram os últimos três anos da década de 60 ensaiando diariamente, mas sem nenhum plano de voltarem para estrada tão cedo.

Boa parte desses ensaios foi gravada e seria compilada no álbum duplo The Basement Tapes, lançado apenas em 1975. Contudo, uma das melhores canções de Bob Dylan dessa safra ficaria de fora dessa compilação. A primeira aparição de “I shall be released” seria no álbum de estréia do The Band, Music From Big Pink (Big Pink era o apelido da casa do grupo em Woodstock). Ao longo dos anos, diversas outras pessoas gravaram essa música (a enciclopedia dylanesca Keys To The Rain apresenta mais de uma página só com referencias de gravações) e Dylan tocaria frequentemente em seus shows. A versão dylanesca de 1967 só seria lançada oficialmente em 1991, na compilação de sobras The Bootleg Series – Vol. 1 – 3

O site PopMatters fez uma seleção das diversas versões dessa música, fiz um Top5 delas:

The Band
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=eBn1_Mq8h0c]

Nina Simone
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=XyCn8IC5RpE]

Mama Cass, Mary Travers & Joni Mitchell
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=8aYAUE6is7I]

Last Waltz – The Band com: Bob Dylan, Joni Mitchell, Neil Young, Van Morrison, Ringo Starr, Eric Clapton, Neil Diamond, Ronnie Hawkins, Dr. John, Ron Wood…
[vimeo=http://vimeo.com/11869065]

Sting
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=z3MDO3xS584]

*** Bonus!

Joe Cocker (que não estava na lista do PopMatters!)
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=Dpyhl85MYmU]

Post publicado inicialmente no blog Pangeia, no dia 14/02/2010

Top5 –  I shall be released

Top5 – Chutes dylanescos

Abaixo, reproduzo um post inicialmente publicado no blog Pangeia, há praticamente um ano atrás (14 de novembro).

Não irei discorrer a respeito do talento como letrista de Bob Dylan. Quanto a isso, muitos já disseram e muitos ainda dirão (como eu, futuramente!). Contudo, deve se respeitar a sofisticação de Dylan quando ele quer dar um fora, um belo chute-na-bunda, através de suas músicas.

O Washington Post divulgou uma lista com cinco foras mais ácidos que cantor deu através de seus versos.

1- “Don’t think twice it’s all right”
“But goodbye’s too good a word, babe/So I’ll just say fare thee well/I ain’t sayin’ you treated me unkind/You could have done better but I don’t mind/You just kinda wasted my precious time/But don’t think twice, it’s all right” (“Mas ‘adeus’ é uma palavra muito boa, querida/ Então eu digo apenas ‘até logo’/ Eu não estou dizendo que você me destratou/ Você poderia fazer melhor, mas eu não ligo/ Você meio que desperdiçou meu tempo precioso/ Mas não pense duas vezes, está tudo bem”)

A sutileza e ironica do título é o que torna a musica ainda mais ácida. O uso de um termo carinhoso, babe (querida), além do “descaso” pelo destrato sofrido pelo eu-lírico, apenas encobre e maqueia o descaso não pelo distanciamento, mas por quem o começou.

2. “4th Time Around”
“And I, I never took much/I never asked for your crutch/Now don’t ask for mine” (“E eu, eu nunca exigi muito/ Eu nunca pedi pela sua muleta/ Agora não peça pela minha”)

Oliver Trager sugere que essa musica é uma resposta a “Norwegian Wood (The bird has flown), de John Lennon. Principalmente essas últimas linhas, que respondem de forma um tanto irônica a influência de Dylan sobre os FabFour.

3. “Positively 4th Street”
“Yes, I wish that for just one time/You could stand inside my shoes/You’d know what a drag it is/To see you” (“Sim, eu gostaria que ao menos uma vez/ Você estivesse no meu lugar/ Você saberia como é um saco/ Te ver”)

Essa musica, lançada como single em 1965, é basicamente um ataque atrás de outro. Cada estrofe é uma ofensa, às vezes irônica e sutil, às vezes agressiva e explícita. As frases acima talvez se encaixem mais na segunda opção.

4. “It’s All Over Now, Baby Blue”
“The vagabond who’s rapping at your door/Is standing in the clothes that you once wore/Strike another match, go start anew/And it’s all over now, Baby Blue” (“O vagabundo que está batendo na sua porta/ De pé com as roupas que você já usou/ acabe com outro jogo, comece de novo/ Está tudo acabado, ‘querida azul’”)

Sem comentários. Uma bela humilhada, com um final conclusivo.

5. “Masters of War”
“And I hope that you die/And your death’ll come soon/I will follow your casket/In the pale afternoon/And I’ll watch while you’re lowered/Down to your deathbed/And I’ll stand o’er your grave/’Til I’m sure that you’re dead” (“E eu espero que você morra/ e sua morte virá logo/ Eu seguirei seu caixão/ Na tarde pálida/ E eu assistirei enquanto você estiver descendo/ No seu leito de morte/ E eu ficarei parado na sua sepultura/ Até eu ter certeza que você está morto”)

Essa música, com um conteúdo mais político do que passional, traz uma descrição dura. É forte a imagem de alguém observando seu inimigo (ou ex-amor) na sepultura e ter certeza que ele está morto.