Gibson lança violão assinado por Dylan

Gibson Bob Dylan SJ-200

Como já era de se esperar, por conta de boatos, algumas fotos e a aparição rápida (e estrategicamente genial) no comercial da Chrysler, a Gibson anunciou o lançamento de um violão feito em parceria com Bob Dylan.

Segundo a empresa, o modelo é uma réplica exata de um modelo customizado SJ-200 que Dylan possui. Ele será lançado em dois formatos: uma edição para colecionador, com um selo interno autografado por Bob (apenas 175 unidades, por US$9.999), e outra “genérica” para músicos, com algumas diferenças nos detalhes e um preço menor (não encontrei o valor oficial, mas imagino que será cerca de US$5.000).

Gibson Bob Dylan SJ-200

Entre os destaques do Bob Dylan SJ-200, está o logo do olho na mão do violão em madrepérola, dois escudos no corpo e um case personalizado com o mesmo logo.

Por que um SJ-200?

Assim que se oficializou o lançamento, alguns fãs começaram a questionar a escolha do formato usado como referência. Nos últimos anos, Bob Dylan costumava alternar entre dois modelos: um Martin D-28 e um Gibson J-45.

Bob Dylan's Gear

Uma pesquisa rápida mostra que Bob Dylan usou pelo menos em três momentos da vida o J-200 (ou o SJ-200). A primeira foi durante um workshop no Newport Folk Festival, em 1965; a segunda foi durante as fotos de Nashville Skyline e no show no Isle of Wight Festival, em 1969 (que Dylan ganhou de George Harrison); e a terceira foi em 1992. Apenas na foto de 1965 nota-se os dois escudos no corpo.

Confira abaixo mais fotos do Bob Dylan SJ-200.

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Devaneios sobre The New Basement Tapes

T-Bone Burnett e cia.

Acabo de ver “Lost Songs: The Basement Tapes Continued”, documentário sobre a produção de “Lost In The River” da Showtime, com direção de Sam Jones. “Lost Songs” tem um aparente compromisso de ser um “making of” do disco, mas acaba se tornando um grande acervo de reflexões e a influência da pressão no processo criativo.

T Bone Burnett resolveu juntar cinco músicos de gerações relativamente diferentes para musicar letras de um Bob Dylan de 26 anos (ou de 47 anos atrás). Elvis Costello funciona como um braço direito e “olheiro” no estúdio de T Bone ao mesmo tempo que torna o projeto menos juvenil. Jim James (do My Morning Jacket) é o extrovertido que possui experiência suficiente para uma aparente facilidade para compor. Taylor Goldsmith (The Dawes), Marcus Mumford (Mumford & Sons) e Rhiannon Giddens (Carolina Chocolate Drops) formam o grupo dos novatos que ainda precisam de tempo e saúde mental para conseguir extrair harmonias e melodias.

O documentário começa com a forma de cada um encarar a aventura: 24 letras de Bob Dylan para serem musicadas em duas semanas, no lendário estúdio da Capitol, com o imponente e talentoso T Bone na produção e câmeras por todo lado. Alguns usam de todo apetrecho tecnológico para gravar ideias ou rascunhos bem definidos – vão desde gravações com iPhone no banheiro do avião (Elvis Costello) até um mini estúdio improvisado em um hotel (Jim James). Nesta primeira parte, tudo parece ser patrocinado pela Apple, com iPads, iPhones e Macs pipocando na tela.

Se alguns seguem o encontro com ideias completas e avançadas, outros rascunham coisas esperando um projeto mais colaborativo. Neste ponto, Marcus e Rhiannon são os que mais sofrem: chegam com quase nada e frustram-se ao se verem mais despreparados do que o resto do grupo. Taylor se vê como um coadjuvante ponderado, que sabe seu humilde lugar no “dream team”, trazendo boas melodias e belas canções. Mas Rhiannon não possui voz suficiente para impor suas ideias e seu processo criativo e Marcus se vê no beco da pressão por metas que o sobrecarrega.

E é aí que nasce um dos pontos mais interessantes e paradoxais do projeto.

O período que surgiram as letras são opostos a esses descritos acima. Bob Dylan ainda se recuperava de um acidente de moto que o obrigou, ou o presenteou, com um sumiço da vida pública. Neste meio tempo, ganha também sua banda de apoio como vizinhos. Desrespeitando todos os prazos (Dylan atrasou em 8 meses a edição de um documentário que nunca foi ao ar e seu livro Tarantula só chegaria às prateleiras 4 anos depois) Bob começa a compor letras exaustivamente. Segundo o dylanólogo Sid Griffin, este é o período mais produtivo da carreira de Dylan.

Se somarmos todas as músicas gravadas durante as Basement Tapes e as letras entregues a T Bone Burnett para o projeto, temos quase 80 obras (é óbvio que algumas músicas gravadas por Dylan e The Band são meros exercícios, mas não deixam de ter valor criativo). Isso sem contar os arranjos desenvolvidos por Dylan e os vizinhos para músicas de outros autores.

Segundo Robbie Robertson, as gravações tinham o objetivo de “parar o tempo” e Dylan afirma que apenas as compunha por que sentia que precisava escrevê-las. Os especialistas argumentam que Bob já pensava em enviá-las para serem gravadas por outros autores (o que foi feito com sucesso, rendendo bons hits e dólares a Dylan), mas o fato é: não havia uma pressão escancarada por resultados; não havia uma meta pré-estabelecida; não havia um convite formal, uma decisão vertical e câmeras por todos os lados. Era exatamente o contrário do vivido pelos “New Basement Tapes”.

Mas uma coisa se mantem. Segundo alguns relatos, Bob Dylan demonstrava um interesse para que a futura The Band passasse a compor também. Os encontros no porão da Big Pink serviam também como workshops, mesmo com Dylan chegando com letras prontas (apenas “Tears Of Rage” e “Wheel’s On Fire” tem co-autoria de algum integrante da banda), havia um ar colaborativo no ar. E independente das letras, Bob Dylan precisava do conhecimento musical e técnico da banda para botar em prática suas ideias – e parecia dar uma considerável liberade nisso.

Se T Bone e seu grupo criaram um caminho diferente, Marcus e Rhiannon parecem ter tido as aulas ministradas por Dylan e trilharam um caminho similar. Ao explorar a canção que estava em si próprio e não nas entrelinhas das palavras, o duo criou o ponto alto do projeto: usar a pressão para fazer algo sincero e real, surpreendendo a si próprio.

Na resenha que fiz para o disco, concluí que os destaques foram exatamente os dois. E vendo o documentário, tive certeza da minha conslusão. Marcus e Rhiannon trilharam o caminho das pedras, mas as histórias reunidas são únicas e eternas.

Bob Dylan faz show para UMA pessoa!

Fredrik Wikingsson

Não, você não leu errado. Ontem, às 15hs em Philadelphia (Meio-dia no horário de Brasília), o sortudo acima foi o único a presenciar Bob Dylan e sua banda no palco do lendário Academy Of Music. Bob cantou quatro canções, nenhuma de sua autoria, para uma casa propositadamente vazia.

Segundo a Rolling Stone, o show fez parte de um projeto sueco chamado Experiment Ensam (Experiência Só), em que diversas pessoas presenciam coisas completamente sozinhas que usualmente são reservadas apenas para públicos maiores. Em outros filmes, uma única pessoa esteve em um clube de comédia ou karaokês. O sortudo que viu Bob Dylan foi Fredrik Wikingsson, famoso apresentador de TV na Suécia. Para ele, o cachê de Dylan foi maior do que o de um show normal.

Bob Dylan – que segundo Fredrik ganhou mais do que seu cachê normal de show – subiu no palco para cantar apenas quatro canções: “Heartbeat”, de Buddy Holly; “Blueberry Hill”, de Fats Domino; “It’s Too Late (She’s Gone)”, do Chuck Willis e mais um blues que a única testemunha não reconheceu.

Wikingsson conta que seu maxilar ficou doendo durante horas. “Eu sorri tanto que parecia que eu estava em êxtase”. Para se ter uma ideia, no seu relato ele comparou até com sua família.

“Eu achei que a primeira fileira iria assustá-lo. Eu era um cara escolhendo o mais próximo do mais caro de uma garrafa de vinho em um restaurante, que é algo bem sueco a se fazer. Eu concluí que a segunda fileira seria ideal.”

Depois de 10 minutos incrivelmente ansiosos, uma pessoa entra no palco e começa a conversar com o técnico de luz. “No fim era o Dylan acenou com a cabeça para mim. Então ele começa a falar com o baixista e o baterista sobre como eles iriam começar a primeira música”.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=h62v-mS_Ko4[/youtube]

Logo que acabou a primeira música, Fredrik aplaudiu e ninguém se importou com ele.

“Eu imaginei que talvez soou um pouco falso e esquisito. Então na segunda música, eu imaginei que deveria falar algo. E foi tão estranho. Eu gritei ‘Vocês soam ótimos!”. Isto fez com que Dylan caísse na risada. Agora, eu tenho duas crianças e seus partos foram ótimos, mas ele rindo no palco por conta da porra de um comentário tosco que eu fiz foi inacreditável!”

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=bQQCPrwKzdo[/youtube]

Com Dylan tocando gaita no final de “It’s Too Late (She’s Gone)”, a platéia de uma pessoa se viu numa situação inusitada.

“Eu semprei detesto quanto as pessoas automaticamente gritam e aplaudem toda vez que ele começa a tocar gaita, mas eu me vi quase chorando quando ele fez o solo. Ele poderia muito bem apenas encerrar a canção sem o solo, mas ele queria que fosse ótimo”.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=SW4fmf7nE0E[/youtube]

No final, um blues irreconhecível para Wikingsson.

“Isto provavelmente será vergonhoso para mim porque talvez seja um blues bem famoso. Eu tenho certeza que quando ver as imagens vou descobrir qual era.”

A apresentação foi filmada com oito câmeras e um documentário de 15 minutos sobre a ocasião será publicado no Youtube no próximo dia 15 de dezembro.

Update (13/12)
Eis o resultado:

 [youtube]https://www.youtube.com/watch?v=Zguua-xpMZI[/youtube]