Informações sobre “Bootleg Series Vol.12”

The Bootleg Series, Vol. 12 - The Cutting Edge 1965-1966
Versão Deluxe, divulgada pela Amazon UK.

O site Ultimate Classic Rock e a Amazon UK acabaram de confirmar os boatos do próximo volume da “série de sobras” sonoras de Bob Dylan: “The Bootleg Series Vol. 12 – The Cutting Edge 1965-1966”.

‘The Cutting Edge’ takes you inside the studio during the recording of three of Bob’s most iconic albums: ‘Bringing It…

Posted by Bob Dylan on Quinta, 24 de setembro de 2015

Com lançamento previsto para 6 de novembro de 2015, o décimo segundo título abordará o primeiro período elétrico da discografia de Bob Dylan, entre 1965 e 1966, quando ele lançou três álbuns emblemáticos: Bringing It All Back Home, Highway 61 Revisited e Blonde on Blonde.

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Edição limitada, com 18 CDs (e, pelo jeito, alguns vinis)

Entre as versões alternativas e sobras de estúdio, destacam-se: uma das primeiras tentativas elétricas, com “Mr. Tambourine Man”, meses antes da versão do grupo The Byrds; take com letra alternativa de “Visions Of Johanna”; e a sessão que resultou na icônica “Like a Rolling Stone”. Outro ponto relevante são sessões de gravação de Blonde On Blonde com os músicos que acompanhavam Bob na época – e que tornariam The Band – antes de Dylan mudar de ideia e ir para Nashville gravar com músicos locais.

The Cutting Edge será lançado em três versões: um resumão em um álbum duplo, uma versão de luxo de seis CDs e uma versão extendida com, prepare-se, DEZOITO CDs!

Lançamento, 6 de Novembro. Save the date e save the money, também!

Confira a relação das faixas:

DISCO DUPLO

6 CDs

18 CDs (pendente)

Update (24/09): Trechos de duas faixas

– Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again (Take 13, Alternate Take)

– It Takes a Lot to Laugh, It Takes a Train to Cry (Take 1, Complete (6/15/65))

Bob Dylan é protagonista em novo clipe!

Acabou de ser lançando o novo clipe de Bob Dylan. O vídeo tem como trilha “The Night We Called It a Day”, do disco Shadows In The Night. Como tem ocorrido nos últimos clipes, a história romântica é contata sob uma ótica violenta e sanquinária (lembre-se de “Duquesne Whistle”, “Beyond Here Lies Nothin’” e “Must Be Santa”).

Com uma roupagem em preto-e-branco, como os antigos filmes, Bob Dylan compete com o ator Robert Davi (que, coincidência ou não, também lançou um álbum com canções já interpretadas por Sinatra) o coração de Tracy Phillips. O resultado é uma sucessão de assassinatos, com Dylan escapando ileso.

Confira!

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=iOxy_hy22CA[/youtube]

O clipe foi dirigido por Nash Edgerton, o mesmo de “Duquesne Whistle.

Resenha: Shadows in the Night

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A valorização do silêncio; a intenção do imperfeito; o respiro poético; a revisitação do inusitado. Em seu trigésimo sexto álbum de estúdio, Bob Dylan explora nuances já testadas, mas nunca registradas da maneira como Shadows in the Night foi concebido.

A Valorização do Silêncio

Bob Dylan decidiu revisitar canções clássicas e algumas raridades – todas elas já interpretadas por Frank Sinatra – e escolheu manter a banda que o acompanha a tantos anos. Há arranjos para metais aqui e acolá, mas no geral é apenas Bob Dylan e seus parceiros – Tony Garnier, Charlie Sexton, George Recile, Stu Kimball e Donnie Herron.

Com um arranjo tão sutil e carinhoso, Bob Dylan se sentiu à vontade para explorar um tom raro de delicadeza.

A Intenção do Imperfeito

Através de um formato de gravação incomum (vale dar uma lida no relato do engenheiro de som, Al Schmitt), Bob Dylan gravou tudo de uma vez só, com poucos takes, sem refações, correções ou até grande modelagens no som (a mixagem que se houve é praticamente o que foi feito no momento da gravação). O resultado é um registro bem arranjado, mas minimalista. Os instrumentos entram apenas quando necessário.

Sobre a performance de Dylan, é preciso ter mente que ele nunca foi um cantor altamente técnico. Desde o início colocava sua voz como achava que deveria, usando mais sua intuição do que um método racional. Mas após mais de 50 anos, incluiu sua vasta experiência para uma intuição ainda mais apurada.

Isso não significa que ele seja um Sinatra ou um crooner clássico, mas um intérprete sincero, transparente e real. Quando ouvimos Sinatra, somos transportados para uma realidade platônica, em que os anjos formam a banda de apoio. Com Dylan, contudo, somos convidados para um passeio no mundo real do sentimento humano. Aqui, as imperfeições existem, com algumas falhas, como leves desafinações.

Ainda assim, o resultado é belíssimo e surpreendente. Há uma lacuna de timbre vocal entre Tempest e Shadows in the Night. Se em Tempest a voz era raivosa e áspera, dessa vez ela ganha ares doces, como um avô entoando canções de sua época (e, no fim, não é isso que este disco representa?).

O Respiro Poético

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Com todos na mesma sala e o microfone de Dylan constantemente ligado, é possível ouvir uma imperfeição técnica que garante uma experiência quase transcendental. Em algumas partes instrumentais, é possível ouvir Bob respirar calmamente, pegar fôlego para iniciar o canto ou suspirar ao final de uma frase. É esquisito e imperfeito, mas ao mesmo tempo intimista e transparente.

Se Bob Dylan usa óculos escuros para cobrir a verdade dos olhos, em Shadows in the Night ele faz questão de que todos ouçam suas verdades nas palavras, sons e silêncio.

A Revisitação do Inusitado (ou a Comprovação da Competência)

O repertório é algo que chama a atenção desde o início. Com exceção da última faixa do disco, “That Lucky Old Sun”, que Dylan já cantou outras vezes, todas as outras músicas são canções inicialmente de jazz e com o universo que, ironicamente, era justamente aquele combatido por Dylan no início de sua carreira folk.

Há quem diga que Bob não quer que Shadows in the Night seja conhecido como “Dylan canta Sintara”, mas apenas uma interpretações de canções que Bob conhecia há muito tempo e resolveu, segundo ele próprio, “desenterra-las. Tirando-as do túmulo e trazendo-as para a luz do dia”.

Mas podemos fazer outra leitura também: Bob Dylan já flertou com esse ambiente intimista e jazzy. Na turnê de 1995, experimentou cantar com sutileza, deixando os arranjos das canções como uma neblina da madrugada, enquanto as palavras que se ouvia não era do cantor, mas do próprio pensamento da noite. Em 2004, homenageou o Teatro Apollo ao lado de Wynton Marsalis para uma interpretação na companhia de uma big band. E em 2009, presenteou a todos com um disco natalino.

Neste último, muitos criticaram a atuação de Bob. Um crítico chegou a afirmar que o timbre de voz, rouco e rasgado, parecia mais uma ameaça do que um convite. Apesar de manter a voz rasgada em Tempest, a turnê de 2013 apresentou um Dylan mais calmo, tentando achar timbres mais aveludados em sua voz.

Talvez estivesse se preparando para este projeto, tão audacioso quanto belo, tão imperfeito quanto verdadeiro e tão perfeito como a vida, apesar de todos os pesares.

E, mais uma vez, Bob Dylan surpreente a todos. Para aqueles que querem o mesmo Dylan de sempre, uma frustração imediata. Para quem está de peito, e ouvido, aberto à novidades e experimentações, um prato cheio de sentimentos.