“Eu estou atento apenas no que acontece em um certo tempo. Não estou atento em como será quando eu for embora ou como é antes de eu estar lá” – Bob Dylan a Larry “Ratso” Sloman, 1975
Hoje Bob Dylan completa 78 anos. É uma marca invejável para um artista que continua se desafiando e interessado em manter na ativa sua inesgotável criatividade. A citação introdutória é de 1975, mas reflete muito bem o pensamento que acompanha Dylan desde sempre.
Mesmo com os setenta e oito ciclos, Bob Dylan mantém seu giro mundial sem parecer ter hora para acabar. Há uma diminuição de velocidade e uma preferência por um repertório mais estático, mas ainda há espaço para experimentações, improvisos e uma necessidade de conectar com seu público.
Exemplo está em sua recente passagem por Viena, quando se irritou com um fotógrafo da platéia e pediu que escolhesse: ou tocavam ou posavam para a foto – quase levando um belo tombo. É interessante observar sua necessidade de brigar para que todos apreciem o momento – e que ninguém estrague o dele, principalmente.
Com sua dignidade intacta, Bob Dylan persiste na sua missão e devoção a sua Musa-mor. Se as palavras lhe rendem prêmios inéditos, é na melodia instantânea que ele encontra o afago para sua arte. Palavras sozinhas, para ele, talvez pareçam fracas ou perdidas. Não há muito o que dizer, mas há muito a se cantar.
Como um trovador budista, Bob Dylan semeia a prática de estar presente no presente. Ele evita ao máximo se afogar na nostalgia imutável. As canções, mesmo que as mesmas, continuam sendo reescritas, rearranjadas, refeitas, transformando-as em novo, de novo e sempre. A cada instante.
E se somos a soma dos instantes, quão relevante é estar presente no agora? Dylan que diga.
Para ler textos de aniversários anteriores, acesse:
Bob Dylan, 77 anos (ou “Olhando para trás”)
Bob Dylan, 76 anos (ou “O escultor sonoro”)
Bob Dylan, 75, e a ocupação em nascer
Bob Dylan, 74, e a Árvore da Música
Bob Dylan, 73, e o eterno estado de “vir a ser”
Bob Dylan, 72 anos: compreendendo Dylan
Os 71 anos de Bob Dylan (ou como ele nunca olha para trás)