Bob Dylan, 80 anos (ou Oitenta razões para celebrar)

Eis que Bob Dylan está prestes a chegar aos 80 anos. Como já é clichê dizer, são muitos Dylans dentro dessas oito décadas. Herói do folk, controverso no rock e country, flertando com o soul, gospel e tantos outros estilos. Se reinventando incansavelmente, sem medo de arriscar.

80 anos. É muito tempo, muita história e muita vida. Que a gente comemore ainda bons anos de aniversário por toda a arte que ele continua a entregar e se entregar.

Nos últimos 10 anos,  fiz textos e devaneios diversos atrelados ao universo dylanesco. Para os 80 anos, resolvi listar uma pequena parcela das razões que me fazem admirar a arte de Bob Dylan.

Todas possuem links. Para os incansáveis leitores, sugiro guardar nos Favoritos para curtir aos pouco. 

Vida longa, Bob!

80 razões (e links) para celebrar a vida e obra de Bob Dylan:

Escreveu músicas eternas, como:
  1. Masters of War
  2. A Hard Rain’s A-Gonna Fall
  3. Ballad of a Thin Man
  4. Like a Rolling Stone
  5. Lonesome Death of Hattie Carrol
  6. It Ain’t Me, Babe
  7. Idiot Wind
  8. Not Dark Yet
  9. Girl From North Country / Spanish Boots of Spanish leather
  10. Only a Pawn In Their Game
  11. When The Ship Comes In
  12. Blind Willie McTell
  13. Man In the Long Black Coat
  14. Mississippi
  15. Things Have Changed
  16. Make You Feel My Love
  17. What Was It you Wanted
  18. 10 músicas com causas pelas quais Bob Dylan lutou 
  19. 15 músicas inesquecíveis, que Dylan (quase) esqueceu
Fez discos icônicos, como:
  1. Highway 61 Revisited
  2. Blood On the Tracks
  3. John Wesley Harding
  4. Time Out Of Mind
  5. Tempest
  6. Bootleg Series
  7. Together Through Life
No palco, criou e recriou a si mesmo várias vezes:
  1. Em pleno anos 70, montou uma caravana cigana como turnê
  2. Fez um “verdadeiro” acústico que nunca foi oficialmente lançado
  3. “Mandou” criar o festival Farm Aid
  4. Empurrou o rock goela abaixo em pleno festival folk
  5. Fez duetos inesperado, de cantora que invade o palco…
  6. … a dançarino ativista em pleno Grammy
  7. Se recusou a tocar no Ed Sullivan após censura
  8. Fez um belíssimo show em São Paulo na turnê de 2012
  9. Promoveu um show em local minúsculo, mas com horas de duração
  10. Já fez show para UMA pessoa
  11. Promoveu diversas mutações instantâneas no palco
No mundo todo, recebeu reconhecimento:
  1. Está entre os 100 maiores artistas de todos os tempos
  2. Tem não apenas um, mas dois filmes dirigidos por Martin Scorsese
  3. Apresentou maconha aos Beatles
  4. É o único músico profissional da atualidade a ter um Nobel
  5. Foi tema de canções de artistas como David Bowie, Cat Power e outros
  6. Ganhou créditos pela sua influência na cena musical de Nashville
  7. Recebeu de Obama a Medalha da Liberdade
  8. Ganhou o prêmio Kennedy Center
  9. Foi condecorado com Legião de Honra na França
  10. Inspirou o projeto The New Basement Tapes
Movimentou o mundo acadêmico e editorial:
  1. Livro: No Direction Home, de Robert Shelton
  2. Livro: A Balada de Bob Dylan, de Daniel Mark Epstein
  3. Livro: O Guia do Bob Dylan
  4. Artigo científico disseca interpretação de Dylan
  5. Palestras do especialista Steven Rings 
  6. Tem inúmeras referências no mundo dos quadrinhos
Tem muitas histórias, e fábulas, acumuladas:
  1. Dylan & Sinatra: o encontro dos olhos azuis
  2. Dylan & Leonard Cohen
  3. O acidente de moto de 1966
  4. Bob Dylan e as crianças
  5. A retórica simbólica dylanesca
  6. É o “real” criador do rap
  7. É autor de TODAS as músicas (humor!)
  8. A icônica coletiva de imprensa de 1965
  9. Incompreendido ou incompreensivo?
  10. Famosa introdução de vários shows
Inspira devaneios diversos:
  1. O fraseado poético como forma de canto
  2. Dylan e seus poderes de expressão
  3. Os 71 anos de Bob Dylan (ou como ele nunca olha para trás)
  4. Bob Dylan, 72 anos: compreendendo Dylan
  5. Bob Dylan, 73, e o eterno estado de “vir a ser”
  6. Bob Dylan, 74, e a Árvore da Música
  7. Bob Dylan, 75, e a ocupação em nascer
  8. Bob Dylan, 76 anos (ou “O escultor sonoro”)
  9. Bob Dylan, 77 anos (ou “Olhando para trás”)
  10. Bob Dylan, 78 anos (ou “Dignity never been photographed”)
  11. Bob Dylan, 79 anos (ou “Fique seguro, fique atento”)
  12. O centenário de Woody Guthrie
  13. A influência de Hank Williams
Também investe em outras frentes:
  1. Clipe de “Duquesne Whistle”
  2. Clipe de “The Night We Called It a Day” 
  3. Esculturas como portôes
  4. Propagandas

E para você? Quais as razões para celebrar?

Os 10 anos do Dylanesco.com

O primeiro post do Dylanesco foi em 10 de novembro de 2010, ainda hospedado nos servidores do WordPress. No segundo semestre de 2011, um designer e fã do Bob Dylan (e desde então um grande amigo), Maurivan Luiz, me abordou para tornar o Dylanesco um site com hospedagem própria. Era um passo de amadurecimento, consolidando o meu comprometimento em escrever um site em português sobre Bob Dylan e seu universo.

De lá para cá, foram mais de 370 posts – desde análises extensas e detalhadas, passando por curiosidades e pequenas abordagens até por devaneios e retrospectivas, como essa.

Agradeço a todas pessoas, citadas aqui ou não, pelas trocas de ideias, comentários, links, arquivos e visões. Este site começou como um acervo de reflexões, mas se tornou uma ponte para muitas outras conexões.

Biblioteca Dylanesca

Talvez o verdadeiro big bang do Dylanesco tenha sido dois anos antes de seu nascimento. Trabalhando como vendedor Livraria Cultura entre 2008 e 2010, o trabalho me deu dois presentes especiais: amigos que mantenho até hoje e descontos para funcionarios, que naquela época eram substanciais, principalmente para livros importados.

A primeira versão da biblioteca dylanesca

E foi um desses amigos, Fábio Bonillo, que ao me ver refletir sobre comprar ou não um livro sobre Bob Dylan – Dylan’s Vision Of Sin, de Christopher Ricks – me fez uma pergunta sugestiva: “Por que você não monta uma biblioteca sobre ele?”. E assim fui aproveitando meus dias como vendedor e depois caçando no Ebay, Estante Virtual, sebos físicos ou livrarias diversas, para compor uma bilioteca com mais de cem livros e uma porção de revistas.

A partir da leitura desses livros e da audição de todo material, oficial ou não, que eu conseguia encontrar, queria registrar de alguma maneira as conexões e reflexões que eles me davam.

De acervo a amizades

O Dylanesco sempre foi pensado como um repositório de reflexões minhas sobre os mais diversos assuntos que habitam o universo de Bob Dylan. No fundo, sempre escrevi os posts como forma de organizar as informações na minha cabeça. Felizmente, tive acesso a diversas pessoas que me ajudaram a expandir minhas reflexões e criar amizades fundadas em uma paixão em comum.

Sérgio Pinho Alves e Cristiano Radke foram importantes nas trocas de informações e novidades que quase sempre vinham sem aviso prévio.

Através do site, conheci virtualmente, e depois pessoalmente, Lydia Himmen e Oscar Fortunato, duas pessoas incríveis e que não só tive ótimos papos como ainda me apresentaram o fã-mor brasileiro: Eduardo “Peninha” Bueno.

Em momento de um upgrade natural do site, conheci o Eduardo Cuducos que me ajudou muito em deixá-lo melhor e tirá-lo de um lamaçal virulento.

MTV Brasil

Tive o “privilégio” de ser convidado duas vezes pela MTV Brasil para compor uma lista de blogs parceiros com eles. O primeiro convite ocorreu ainda quando era a antiga MTV. Fui até o prédio e lá me foi vendido uma parceria interessante e promissora. Um contrato seria enviado para concretizar o compromisso.

Quando recebi o documento, conversei com um amigo advogado, Daniel Jacintho, que traduziu o juridiquês extenso e me mostrou a realidade malandra do mercado: ao assinar eu cedia todos os direitos autorais de todo o conteúdo do site para ser usado para qualquer fim pela Abril, sem necessidade de remuneração ou aprovação. Uma parceria pouco equilibrada, eu diria, que obviamente declinei.

Meses depois, já como “nova MTV”, recebi outro contato dessa vez para uma parceria sem amarras ou grandes obrigações. Eu deixaria uma “barra de atalho” da MTV no meu site e o meu link apareceria no site deles. Nada de mais, mas mais justo do que anteriormente.

Universo Dylanesco

Registrar meu acompanhamento da carreira de Dylan nesses últimos 10 anos me fez ainda mais admirador do seu trabalho, sua missão musical e sua vasta liberdade artística. Gostaria de escrever muito mais do que escrevo – além de inúmeras outras ideias que ainda estão como rascunho -, mas admito orgulho de criar um acervo de textos e reflexões, algumas delas datadas ou até pouco amadurecidas, mas todas sinceras.

Que venham tantas outras décadas!

Bob Dylan, 79 anos (ou “Fique seguro, fique atento”)

Desde 2011 escrevo no dia 24 de maio um devaneio sobre Bob Dylan. Para além das festas, penso nos aniversários como um momento de reflexão. É desse jeito que costumo fazer com os meus e foi como imaginei fazer com os de Dylan.

Assim, é impossível dissociar este balanço reflexivo com nosso contexto atual. Vivemos uma pandemia quase incoerente – um vírus que se desintegra com água e sabão, mas que chega a matar 1.000 brasileiros em um dia. O isolamento imposto pelo coronavírus pode flertar com a solitude, mas seu perfil coercitivo nos faz claustrofóbicos – cada um a sua maneira.

Em meio a tudo isso, talvez tenha sido a primeira vez que realmente me peguei imaginando como Bob Dylan passa seu aniversário. Quase em tom de fiscalização, me peguei questionando coisas como: será que ele está se cuidando, lavando as mãos, usando máscara e assim por diante.

O fato é que pouco sabemos da vida íntima de Dylan – às vezes as informações vem à tona décadas depois. E pouco importa também. É necessário entender que o Dylan que conhecemos, e que admiramos, é o Dylan do palco, do estúdio, das letras e canções. Não é o avô, pai ou amigo confidente.

Com o distanciamento, vivemos em um reality show generalizado, com todos transmitindo suas casas como cenário. A ideia de uma live dylanesca nunca passou na minha cabeça – tamanha invasão é absurda diante do seu histórico recluso. Mas ganhamos uma mensagem divulgada em conjunto com o lançamento “Murder Most Faul”.

“Saudações para meus fãs e seguidores com gratidão por todo seu apoio e lealdade durantes os anos. Esta é uma canção inédita que gravamos há algum tempo e vocês talvez achem interessante.
Fique seguro, fique atento que Deus esteja com vocês.”

“Murder Most Faul” veio a público no dia 27 de março. Três semanas depois ouviríamos “I Contain Multitudes” e seguidos outros 21 dias receberíamos “False Prophet”. Junto com a última música, chegou a informação de que teríamos outras sete faixas inéditas – pelo menos até pessoas como Scott Warmuth vasculhar o mundo atrás de referências, influências e dialogismos.

As três novas canções apontam muitos pontos interessantes. O mais óbvio é o retorno a composições próprias. Também é interessante observar como as duas primeiras absorvem a recente fase jazzística para criar algo diferente. É um estilo que dialoga com os últimos discos de cover, mas que não os repete. Há o clima, mas o cenário é diferente.

Desde 2015, Bob Dylan se propôs a garimpar o cancioneiro norte-americano para entender suas entranhas harmônicas, suas intonações vocais e todo o sentimento que muitas gerações receberam incessantemente. Gostemos ou não do resultado, colheremos em breve o fruto dessa imersão.

E agora me vem a mente: há aqui a maneira Dylan de compartilhar sua intimidade.

Ele não permite a entrada da mídia em sua casa. Não distribui pelo mundo entrevistas e é raro vê-lo no palco falar algo que não seja sua música. Mas é inquestionável sua disposição de tornar seu trabalho um livro aberto. Nesses lançamentos de jazz, ele se propôs a uma imersão descobridora e permitiu que nós fôssemos testemunhas. E agora, aos 79, divulgará os resultados dos aprendizados dos últimos anos.

Com “Murder Most Faul”, abre um pouco seu universo de referências e apresenta em forma de lista como tudo que absorve se torna uma colcha variada e colorida.

Enfurnado em casa, ouvindo as novas canções e suas listas e referências, me inspiro a fazer o mesmo. Não é nostalgia, mas uma revisitação sob o olhar atual. Não é reviver, mas reencontrar. Seja com livros, discos e até armários que há tempos não mexia, Bob Dylan me inspira a cerzir minha própria colcha de retalhos.

Parabéns, Dylan. Fique seguro, fique atento que Deus esteja com você.

Para ler textos de aniversários anteriores, acesse:

Bob Dylan, 78 anos (ou “Dignity never been photographed”)

Bob Dylan, 77 anos (ou “Olhando para trás”)

Bob Dylan, 76 anos (ou “O escultor sonoro”)

Bob Dylan, 75, e a ocupação em nascer

Bob Dylan, 74, e a Árvore da Música

Bob Dylan, 73, e o eterno estado de “vir a ser”

Bob Dylan, 72 anos: compreendendo Dylan

Os 71 anos de Bob Dylan (ou como ele nunca olha para trás)